Gestão Empresarial

Publicado originalmente no linkedin em 08/02/2022. Clique para ler o artigo original 

Todo ano novo renovamos nossas esperanças de um ano melhor, mais proveitoso para as pessoas, para os negócios, para nossa família e queridos. Até nossos desejos mais famosos da virada de ano sempre estão ligados com a saúde, uma alimentação melhor, uma atividade física e muito mais.

Nos negócios não é diferente. Queremos um ano melhor, com mais negociações, mais riqueza e prosperidade. E aí surge a questão sobre o que estamos fazendo para atingir esse objetivo. Nossos dias, semanas, meses e anos, em muitos casos, tendem a ser repetidos e podemos até dizer viciosos.

Queremos um ano novo virtuoso!

Apesar das máximas já cunhadas por tantos oradores de peso, incorporar a essência desses dizeres é sempre muito difícil; estou falando de uma delas, provavelmente, incorretamente atribuída a Albert Einstein, que diz: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. A citação é uma metáfora muito forte para o termo “insanidade”, que tem um significado real completamente diferente, com uma definição legal de doença mental de natureza severa.

Ainda que figurativamente e, eventualmente, até distorcida, essa metáfora reflete um processo vicioso, que certamente queremos interromper a todo o tempo e, principalmente, na virada do ano novo. Queremos deixar alguns vícios em um sentido amplo que não apenas aqueles doentios, mas também vícios que nos impedem de prosperar, virtuosamente.

Conforme contextualizou Ryan Howes em sua publicação na “Psychology Today”, há uma aparente confusão por trás dessa afirmação que pode ser ilustrada e nos ajudar de forma concreta com a transição do vicioso para o virtuoso, considerando as seguintes duas palavras:

  • Perseveração: a repetição patológica e persistente de uma palavra, gesto ou ato. Algumas formas de doença podem levar as pessoas à perseveração. Essas pessoas não são necessariamente insanas, mas presas em um padrão improdutivo.
  • Perseverança: persistência constante em um curso de ação, apesar das dificuldades, obstáculos ou desânimo.

Há também uma construção psicodinâmica chamada compulsão à repetição, em que as pessoas repetem inconscientemente os conflitos do passado em uma tentativa de solução. Queremos terminar negócios inacabados, então às vezes recriamos problemas antigos e não resolvidos pelo potencial de um resultado melhor. Neste momento vemos claramente nossa perseveração, nosso círculo vicioso, que no mundo dos negócios, se resume em atribuir nossas mazelas ao governo.

Em referência às razões do Brasil não prosperar, vemos a todo tempo críticas ao governo por políticas equivocadas, tanto no campo econômico como também no campo político partidário. Não contesto, mas repito que já estamos no campo vicioso da retórica da crítica como meio e esperança por um resultado diferente [fazendo a mesma coisa].

Enquanto no plano macro de um país, nem sempre temos a possibilidade de uma ação transformadora, por isso, voltemos para nossa célula em que temos controle e vamos buscar perseverança. Não vamos confundir perseveração [vício] com perseverança. Uma busca persistente, perseverante contra um medo ou em direção a um objetivo maior costuma ser o melhor curso de ação. Repetir o mesmo comportamento construtivo indefinidamente, esperando (um dia) um resultado positivo é difícil, mas virtuoso.

É o nosso esforço feito no campo pessoal de se alimentar bem todas as manhãs, escovar os dentes após cada refeição e manter um registro diário dessas conquistas. É como uma terapia semanal, exercícios consistentes e dedicação à espiritualidade. É um passo “um dia de cada vez”. As qualidades de perseverança [persistência], consistência, lealdade – são benéficas para a saúde e definitivamente não são insanas. E nesse caso estamos fazendo a mesma coisa todos os dias, na esperança de algum progresso real.

Então, como saber a diferença? E como sair do vicioso para o virtuoso, na vida pessoal e no mundo dos negócios? A perseveração [repetição doentia sem propósito] parece compulsiva, sem esperança, desamparada, automática e insatisfatória. Há um desejo de parar, mas parar não parece uma opção.

A perseverança [o ato saudável de busca da mudança e progresso] é como lutar por uma meta nobre e, quer ela seja alcançada ou não, há virtude [é virtuoso] no esforço. A perseverança é uma qualidade forte e valiosa. A perseveração é uma questão preocupante que requer atenção clínica.

Não deixe um ditado curioso obscurecer essa distinção.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em janeiro de 2021 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.